1 – Enquadramento do Projecto
O Museu surgiu no âmbito do projecto Raízes, da iniciativa comunitária INTERREG IIIB, sendo este da responsabilidade da Associação Santana Cidade Solidária e da Associação dos Jovens Agricultores da Madeira e Porto Santo, com apoio de outras instituições.
O Projecto “Raízes” tem como principal objectivo melhorar o potencial económico dos mais jovens através da exploração e reorientação dos recursos naturais das zonas rurais, como também valorizar e transmitir de geração em geração a cultura e tradição especifica de cada região, criar pólos de desenvolvimento económico fora das grandes cidades das três regiões envolvidas (Madeira, Açores e Canárias) criando condições para que de alguma forma se possa combater o êxodo rural, possibilitando oportunidades de emprego para os mais jovens, nas zonas rurais.
2 – Localização do Museu
O Museu do Vinho e da Vinha está situado no Campo Experimental de Viticultura na Freguesia do Arco de São Jorge.
A Freguesia do Arco de São Jorge pertence ao Concelho de Santana. É uma Freguesia com 3,5 km2 que está localizada na costa Norte da Ilha da Madeira, distanciando-se 40 km do Funchal e 18 km da sede de Conselho.
O Campo Experimental de Viticultura do Arco de São Jorge tem uma área de vinhas com cerca de 12000 m2. Este surgiu há 22 anos, com a finalidade de experimentar castas de várias origens (Alemã, Francesa, Italiana, Portuguesa) para produção de vinho licoroso e de mesa, tendo em conta as condições do solo e climatéricas. Depois de várias fases de experimentação, foram seleccionadas as castas que melhor produziam e que melhor se adaptaram ao tipo de solo e de clima. Seguidamente, eram aconselhadas aos agricultores as castas que apresentavam as melhores características de produção.
3 - Breve referência Histórica ao vinho da Madeira
O vinho chegou à Madeira no século XV. A cultura da vinha fez-se primeiro nos arredores do Funchal e mais tarde alargou-se aos outros concelhos. Por toda a Ilha, a cultura da vinha em socalcos, marcou a paisagem madeirense.
O povo da Madeira, desde 1575, substituiu os canaviais por vinhedos que se expandiram por todas as terras cultivadas, substituindo parte da floresta, quer a Norte, quer a Sul. O vinho Madeira deu fama à Ilha. Desde meados do séc. XVI a produção de vinho evidenciou-se como um único meio de sustento, marcando deste modo, a história da Madeira.
A partir do princípio do século XIX, o vinho Madeira ganhou novos concorrentes na Europa, Ásia e América, o que originou uma descida na procura. Esta substituição que se agravou ano após ano, originou quadros de fome e miséria que assinalaram a história da Madeira. Em meados do século XIX, o oídio (1852) e a filoxera (1872) contribuíram para arrasar o sector vitícola. A recuperação do sucesso vitícola madeirense foi um objectivo nunca concretizado, ficando apenas na memória a ideia de fama e esplendor provindos do sucesso dos vinhos. Depois das pragas do oídio e da filoxera, procedeu-se à substituição das castas por cepas americanas (como o Jaqué, Americana, Isabela, Canin, Argmum), mais resistentes à filoxera e de maior produção. Neste momento, procede-se, mais lentamente do que se pretendia, à reconversão da viticultura madeirense. Apesar dos contratempos que a produção sofreu, ainda subsistem castas que dão origem ao bom vinho Madeira.
4 – Visita guiada ao Museu do Vinho e da Vinha
A visita guiada leva-nos à história do ciclo do vinho Madeira, reavivando a memória dos mais esquecidos e mostrando a nossa história àqueles que nos visitam.
Todas as peças que se encontram dentro do museu, foram gentilmente cedidas, na sua maior parte, pela população do Arco de São Jorge.
1ªEtapa da visita – Visita às vinhas das diferentes castas para a produção de vinho, desde os vinhos licorosos até aos vinhos de mesa.
2ª Etapa da visita – O serrote e os podões cortam as cepas e as parreiras que não vão dar uvas e as espadanas amarram as cepas ao arame. É nos meses de Janeiro a Março que decorre a poda a cava e a adubação da vinha.
A partir de Maio até Junho é a época de sulfatar, esfolhar e enxofrar a vinha, para isso são usadas as máquinas de sulfatar e o fole ou a enxofradeira.
3ª Etapa da visita – A partir de Agosto até Outubro faz-se a apanha das uvas. As crianças e as mulheres com os seus lenços na cabeça levam as suas podoas e podões para apanhar as uvas. Todos ajudam na apanha, colocam as uvas dentro dos cestos de mão que posteriormente vão ser colocadas dentro dos cestos de vindima ou nos cestos giga que vão ser transportados pelos homens com as suas molhelhas feitas de saca de lona (saca anteriormente utilizada para guardar sementes e ração) e com o seu bordão. A molhelha e o bordão servem de ajuda aos homens no transporte das uvas.
As refeições iam para o campo envoltas numa toalha de pano dentro de uma giga, ou dentro de um cesto de vimes. O vinho e a aguardente bebiam-se, por tradição, por um corno de vaca ou de cabrito.
4ª Etapa da visita – Lagares – Chegados os cestos cheios de uvas ao lagar podiam ser pesados na balança decimal, assim, o produtor sabia quanto produziu.
As uvas são colocadas dentro do lagar e pisadas pelos homens descalços que também têm uma ajuda do malho do lagar na pisa, depois de pisadas as uvas, o bagaço é colocado no centro do lagar, com a ajuda da pá, da vassoura de urze e do garfo. De seguida, é colocada a corda de nylon com o estropo à volta dos engaços, de modo a que quando se faça pressão, o vinho saia, antigamente era usada uma corda de eras.
Depois desta operação o vinho cai dentro do cesto da bica do lagar, sendo deste modo filtrado ao cair dentro da tina do lagar.
Também se pode verificar a quantidade (grau) de álcool que o mosto contém, usando os mostimetros.
Existem dois tipos de lagares, o de fuso e peso e o de prensa manual, sendo o de fuso e peso, o mais antigo e o mais eficiente.
Os trabalhos no lagar prolongavam-se pela noite dentro, e como não havia electricidade, usavam-se os faróis e candeeiros a petróleo.
Os homens com os funis enchem os barris que vão ser transportados para as adegas, ou então, pode ser utilizada a bomba de transfega para tirar o vinho de dentro da tina para a pipa.
Para a medição do vinho podem ser utilizados potes medidores com diferentes capacidades. Antigamente eram utilizados os borrachos (recipiente feito de pele de cabra), para transportar o vinho dos lagares para as adegas.
As pipas as cartolas e os barris tomam forma nas mãos do tanoeiro. Estes objectos são utilizados nas várias etapas da produção do vinho.
5ª Etapa da visita – É na garrafeira que se encontram os vários tipos de vinho produzidos na Madeira, desde os vinhos de mesa, brancos e tintos, aos vinhos generosos.
6ª Etapa da visita – No fim desta visita sabe bem um pouco de Vinho Madeira acompanhado de bolo de mel e doces tradicionais, cozidos num forno a lenha.
Anexos
Variedade de Castas
Castas para a produção de vinhos Licorosos
As diferentes castas que se encontram no Campo Experimental para a produção de vinho licoroso são: o Sercial, Terrantez, Verdelho, Complexa.
Sercial – Diz-se que esta variedade foi transplantada do Reno para a Madeira. Tem cachos pequenos ou médios, bastante densos. Cultiva-se nas zonas altas, como o Jardim da Serra, e nas zonas baixas, como o Seixal e Porto Moniz. Quando novo, este vinho pode ser desagradável ao paladar (antes dos 10 anos é áspero e cru), sendo o envelhecimento necessário para atingir a perfeição e desenvolver o sabor agradável que o distingue. O sercial é um vinho seco, por isso é um aperitivo perfeito, óptimo para estimular o apetite.
Terrantez – A casta Terrantez cresce em cachos grandes e ovais. O seu bago tem uma forma alongada e torna-se dourado quando amadurece. Produz um vinho rico, com um ligeiro travo amargo, devido à pele da sua uva e ao facto das folhas serem deixadas a fermentar. O vinho conseguido é tão especial que se diz: “As uvas Terrantez, Não as comas nem as dês, Para vinho Deus as fez”.
Verdelho – Este tipo de vinha cresce em cachos pequenos ou médios, geralmente cilíndricos. Cultiva-se nas zonas intermédias, entre os 400 a 500 metros e também junto ao mar, como na Ponta Delgada, São Vicente e Raposeira. As uvas produzem um vinho meio seco, de sabor agradável, perfeito para ser consumido como aperitivo ou sobremesa.
Complexa – Esta casta tem duas vertentes, uma para a produção de vinho licoroso, e a outra é para a produção de vinho de mesa.
Castas para a produção de vinhos de mesa
As castas que se encontram no Campo Experimental para a produção de vinho de mesa tinto e branco são: Touriga Nacional, Touriga Franca (Francesa), Tinta Barroca, Complexa, Arnsburger, Cabernet Sauvignon, e Merlot.
Touriga Nacional – Casta com baixa produção de uva por videira, os seus cachos, embora abundantes, são de pequeno tamanho assim como os bagos. Produz vinhos de cor forte e sabor intenso com muitos taninos e concentrados. É uma casta de origem antiga, remontando a sua presença pelo menos ao século XVI.
Touriga Franca (Francesa) – Os cachos são médios/grandes e os bagos são redondos, de tamanho médio, de cor azul violácea. A maturação é mais precoce que a Touriga Nacional. Produz vinhos notáveis pelo perfume e fruta persistente.
Tinta Barroca – Casta de rendimentos elevados, por vezes excessivos. As videiras são medianamente vigorosas, regulares na produção ao longo dos anos e são resistentes às doenças e pragas. Casta precoce na maturação e que produz mostos ricos em açúcar.
Complexa – Esta casta tem duas vertentes, uma para a produção de vinho licoroso, e a outra é para a produção de vinho de mesa.
Arnsburger – Produzida em solos vulcânicos, com clima influenciado pelo Oceano Atlântico. Estas uvas são de origem alemã. Produzem um bom vinho branco normalmente usado para acompanhar pratos leves de peixe, marisco e carnes brancas.
Cabernet
Sauvignon – As suas uvas têm um tamanho pequeno, possuem uma cor azulada e película grossa. A maturação é lenta e tardia e tem grande resistência à podridão. Não gosta de calor nem frio excessivos. Os vinhos são normalmente escuros com sabor intenso a groselha preta, mirtilos, amoras, cerejas, ameixas, pimento verde, eucalipto e a cedro. Possui taninos nobres que permitem dar aos vinhos uma certa longevidade.
Merlot – A cepa Merlot amadurece mais cedo do que a Cabernet Sauvignon, mas é menos resistente à podridão. É convencionalmente associada a solos húmidos argilosos.
(Informação cedida pelo Museu)
quinta-feira, 29 de maio de 2008
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